Recensão: “One Health: Um planeta, uma saúde, uma ética” por Diogo Rocha

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), publicou uma monografia sobre um conceito cada vez mais presentes nas discussões da comunidade científica: “One Health” (Saúde Una). Um livro que une as ciências médicas, biológicas e sociais, para debater um tema que carece de discussões alargadas.

Em Portugal, o termo ganhou força no pós pandemia covid-19, dando origem à monografia da CNECV. Não se tratando de um livro académico, apresenta jargão científico e considerações que ainda se encontram no plano teórico. A monografia encontra-se organizada em dezanove contribuições (capítulos), cada uma delas correspondente a um ou mais autor[es] que escolheram uma temática de trabalho para desenvolverem o tema.

Partindo do prossuposto que a saúde e a doença, não são conceitos transcendentais, mas cosmologias incorporadas em práticas, constantemente em mudança.

A definição proposta por este conjunto de especialistas, deriva numa dialética concreta, entre quatro grandes unidades, em que todas se apresentam num limítrofe para o trabalho conjunto. A primeira unidade, une a biologia aplicada (da microbiologia à biologia molecular) e a ecologia. Áreas que elaboraminvestigação primária, que apresentam dados e explicações e em última análise resoluções para os problemas biológicos.

Uma outra unidade é a “One Medicine”, tratando-se de uma união entre medicina humana e veterinária, que em conjunto elaboram formas de intervenção na saúde e na doença das populações de indivíduos humanos e animais.

O direito é uma outra unidade fundamental, embora menos aparente. Onde às moralidades que advêm das investigações científicas, e dos conselhos da “One Medicine”, tornam-se princípios concretos, que são aplicados às sociedades de uma forma legislativa.

A última unidade que se encontra omnipresente em todos os textos, corresponde às ciências sociais e o seu papel focal no debate “One Health”, em particular com a antropologia, que há mais de trinta anos, em áreas como a “antropologia médica”, aplica conceitos e metodologias que agora integram as diretrizes comuns.

Um livro que traz um valioso contributo, de como pensar em diversas perspectivas as questões da saúde e da doença, estando aliadas a processos biológicos, ecológicos, legislativos, éticos e acima de tudo sociais. Um livro que levanta a fórmula transdisciplinar mais uma vez para a berra da ciência, demonstrando como o papel das ciências sociais, é fundamental para coordenar e trazer novas perspectivas.

Propondo e demonstrando como as quatro unidades apresentadas (biologia e ecologia; medicina humana e animal; direito e ética; ciências sociais), se integrem numa ampla unidade singular: “One Health”.

Artigos que destaco e recomendo:

. Ricardo R. Santos – “One Health: Uma (nova) ciência de sobrevivência ?”

. Isabel Henriques, Helena Freitas, Joana Costa – “Uma só saúde e saúde planetária: Perspectivas Convergentes para a sustentabilidade dos sistemas alimentares”

. Anabela Mota Pinto e Ana Todo Bom – “Uma só saúde «One Health» – A visão Médica”

. Inês Fronteira, Matilde Pacheco, Paulo Ferrinho – “Implicações da «One Health» nas políticas de recursos humanos em saúde”

. André Gonçalo Dias Pereira – “One Health – o direito da saúde em transição”

. Jorge Varanda – “One Health – Porque a Antropologia faz a diferença?”

. João Quiroz e Esmeralda Delgado – “One Health e a economia circular: Uma visão complementar”

Nota: Por motivos de publicação a recensão encontra-se editada e cortada.

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